Práticas de memória, narrativas da história: representações de alunos do curso de pedagogia para educadores do campo (UNIOESTE) sobre o ensino de história

Trabalho busca compreender representações sobre o ensino de História de alunos do curso de Pedagogia para Educadores do Campo

O objetivo do trabalho foi compreender as representações sobre o ensino de História de alunos do curso de Pedagogia para Educadores do Campo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus da cidade de Francisco Beltrão. Trata-se da primeira experiência, no Paraná, de formação de professores, que funcionou em turma única, entre 2004 a 2008. O curso foi oferecido para integrantes de Movimentos Sociais do campo, como: Casas Familiares Rurais (CFRs), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Associação Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESOAR), Comunidade Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A proposta pedagógica pretendia formar profissionais que dominassem o conhecimento pedagógico e os conteúdos das disciplinas específicas, tendo como eixo teórico o materialismo histórico-dialético. Apresenta, ainda, como princípio de formação a Pedagogia do Movimento, na qual a Pedagogia da História considera a memória coletiva parte do processo educativo e da construção da identidade dos Sem Terra. Ao considerar estes aspectos, nos parece pertinente investigar: 1) Quais são as representações de História e do ensino de história de alunos do curso? 2) Como o curso foi estruturado e construído na UNIOESTE?

O corpus documental da pesquisa se constitui em entrevistas, produzidas na perspectiva das fontes orais, com 10 alunos e 03 professoras universitárias, gravadas em janeiro de 2008. Foi elaborado um roteiro de perguntas que versavam sobre as suas experiências de escolarização no ensino de História, a atuação nos Movimentos Sociais, sua vivência no curso de formação superior e nos estágios supervisionados. Realizamos a observação das aulas da disciplina de Educação e Trabalho, sobre a qual escrevemos um diário de campo, relatando o espaço em que as aulas aconteciam e a organização dos alunos. Aplicamos um questionário para identificar o perfil sócio-cultural dos entrevistados. Realizamos, ainda, a coleta do projeto pedagógico do curso, da documentação que o oficializou e de um Dossiê, contendo alguns Boletins de Educação publicados pelo MST entre os anos de 1991 a 2001. Destacamos a produção escrita sobre educação do referido Movimento Social, por identificarmos aspectos de sua proposta educacional no projeto pedagógico do curso, em específico ao ensino de História. Nosso referencial teórico consiste na leitura de Chartier (1990), que elaborou estudos sobre a produção de representações entendendo-as como práticas sociais. Le Goff (1996), Pollak (1989) e Halbwachs (2006) subsidiaram reflexões sobre a utilização da memória coletiva como instrumento de luta de poder na sociedade e sobre seu processo de funcionamento pelos grupos sociais para a construção da identidade. Nora (1983) e Meneses (1992) nos forneceram reflexões quanto às diferenças entre História e memória. Há entre os alunos, a compreensão de que a história é um processo de luta entre classes e de que a finalidade do seu ensino é o processo de humanização dos indivíduos. Em suas lembranças emergem representações que constroem uma visão idealizada do campo, de um ensino tradicional em oposição às experiências anteriores à sua entrada nos Movimentos Sociais. São representações que correspondem às expectativas de construção da memória coletiva, visando à identificação dos trabalhadores rurais com os grupos em que estão inseridos e à formação do professor militante.

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