O artigo “Formação e Literatura: Os significados dos livros para as mulheres”, por Patrícia Aparecida do Amparo, faz uma investigação sobre as ligações multifacetadas das mulheres e a literatura a partir de uma revisão bibliográfica sobre o tema, buscando compreender a consolidação das mulheres como um público leitor em um momento histórico específico em que a literatura se constitui como espaço de educação e formação feminina privilegiado em ambientes distantes da escola.
O artigo explora as manifestações desse processo de pedagogia cultural literária na Europa e no Brasil – em diferentes momentos, pois no Brasil apenas ocorre isso após a independência, junto a um projeto educacional que inclui as mulheres – e suas ramificações, como novas publicações destinadas especificamente ao público feminino e estruturadas para o seu suposto “gosto”, mas também uma explosão no número de mulheres escritoras que não se encaixam nesse novo projeto de organização social e propõem outras possibilidades.
A literatura acaba por se configurar como um campo de disputas com usos inesperados em que, de um lado, encontram-se representações com público alvo feminino que transmitem e ensinam valores burgueses de feminilidade, que fazem a manutenção do papel da mulher que cuida do lar e dos filhos. Mas também encontra-se na prática da escrita feminina, tanto em livros como em periódicos, um espaço de resistência, emancipação, reivindicações políticas e problematização da sociedade, movimento esse que foi de certa forma apagado pela historiografia tradicional.
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