Trazendo a perspectiva de outros trabalhos em que são discutidas as formas variadas como diferentes grupos sociais se relacionam com a cultura, em que a ideia de uma homologia entre a cultura ensinada pela escola e a praticada pelos alunos em outros ambientes, como o familiar, é colocada em questão, o artigo “Você está proibida de ler fotonovela: Relações entre as práticas literárias dos estudantes e a escola”, escrito por Patrícia Aparecida do Amparo, analisa um grupo heterogêneo de mulheres que privilegia a leitura dos romances sentimentais – mais especificamente, a coleção Clássicos Históricos.
O texto explora a cultura que se constrói ao redor deles, passando pela questão da aquisição das obras, por exemplo, que ocorre através de trocas comunitárias para algumas, criando redes, ou por assinaturas para outras, ponto que incorpora a questão das condições financeira à análise. Também aborda a criação de um arbítrio cultural e círculos de sociabilidade feminina dentro das famílias, em que as mulheres mais velhas desempenham um papel de mediação ao apresentar os livros às leitoras mais novas, livros esses que ocupam um lugar de grande intimidade em seu cotidiano.
Passando para as representações das leitoras sobre como a escola e a sociedade se relacionam com a cultura estabelecida por elas, explicita-se uma relação que é muitas vezes de oposição, com professores que desvalorizam a leitura das fotonovelas e a censura quando se trata dos elementos da sensualidade e erotismo presentes nas obras, o que leva até mesmo a esconderem seus gostos por insegurança e duvidarem das suas capacidades de interpretação literária na medida que a instituição escolar retira a legitimidade das suas leituras.
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