LABMAT - Laboratório de Matemática

O Laboratório de Matemática como Espaço de Aprendizagem *

Entendemos que o laboratório de matemática é um ambiente que propicia aos alunos a possibilidade de construção de conceitos matemáticos, além da análise e nova interpretação do mundo em que vivem. Também adquire importância como local de reunião de professores, para discussão, elaboração de aulas e atividades, utilizando, preferencialmente, a diversidade de recursos materiais disponíveis no laboratório.

O ideal seria ter uma sala especialmente dedicada à sua montagem, equipada com: estantes para a organização dos materiais, livros e jogos; mesas para trabalho; recursos tecnológicos; uma boa iluminação. Entretanto, não possuir um espaço ideal não impede sua existência, pois um cantinho na sala, uma estante ou uma caixa com materiais pode transformar-se no “laboratório de matemática” da classe, ou ainda um laboratório circulante, a ser constantemente reciclado, ampliado e atualizado não apenas com materiais, mas, principalmente, com novas atividades e projetos que envolvam a criatividade dos usuários. É de suma importância a presença de um grupo de alunos, responsável pela organização e manutenção do laboratório, bem como de um coordenador para a orientação de trabalhos e pesquisas. A construção conjunta deste espaço, por alunos e educadores, é fundamental.

Lembramos que a existência de um laboratório bem equipado e montado, por si só, não garante a aprendizagem. As atividades no laboratório devem ser orientadas a partir de um ou mais objetivos estabelecidos pelos professores, de acordo com as necessidades dos alunos. Tendo definido seus objetivos, bem como o conteúdo e os procedimentos que pretende trabalhar, o professor poderá, então, em meio à diversidade de materiais (existentes no laboratório), escolher o que mais se adapta aos seus propósitos.

Considerando, portanto, que a atividade educativa implica o processo ensino-aprendizagem de procedimentos e atitudes e não só a memorização de conceitos e fatos, e, dada a impossibilidade de definir atividades de ensino padronizadas, que atendam às necessidades de todos os alunos, de todas as regiões, torna-se clara a exigência de diversificar as atividades de ensino, bem como estratégias e o uso de outros materiais, além do livro didático, para contribuir com a aprendizagem significativa dos alunos. É neste sentido que o conceito e o espaço de um laboratório podem contribuir. Reiteramos que o professor deve ter claro seus objetivos, para procurar as estratégias e os materiais mais adequados, analisando sobre cada um deles a sua função, e a maneira como ele será organizado, para que não aconteça o inverso e os materiais acabem por ditar e definir, única e exclusivamente, a atividade de ensino, o que, não raras vezes, acontece com o livro didático.

O que importa é que não há regras fixas, nem preestabelecidas para a criação de um laboratório de matemática; a criatividade conta muito em sua montagem, bem como a aquisição de materiais e jogos já prontos, além de livros didáticos e paradidáticos. Não pensamos em ser diretivas com muitos exemplos, pois a construção do laboratório deve partir sempre das necessidades do processo ensino-aprendizagem. Consideramos, como fator de grande importância para a constituição do laboratório, a constante formação do professor e suas pesquisas, ampliando cada vez mais as possibilidades de exploração dos materiais nas atividades.

A seguir, vamos discutir alguns elementos que podem estar presentes na montagem de um laboratório:

Espaço físico

Carteiras e cadeiras, leves e formado prático, podem ser facilmente reorganizadas pelos alunos, de acordo com a necessidade da atividade e de maneira a ocupar o menor espaço possível. Se o laboratório for dirigido a crianças pequenas, o ideal é dispor, também, de um espaço livre (sem carteiras e cadeiras), para proporcionar maior variedade de atividades. Lousa, murais e prateleiras podem ser utilizados para a exposição de trabalhos dos alunos, o que serve de estímulo para a criação, além de ser uma forma de reconhecimento de seus esforços. Como qualquer ambiente de ensino, o laboratório deve ser bem ventilado, arejado e iluminado.

A biblioteca do laboratório

Utilizados como fonte de pesquisa pelos alunos, os livros didáticos podem oferecer o contato com o vocabulário matemático, com a parte formal da matéria, podendo ser utilizados para resolução de dúvidas ou aprofundamento de conceitos. É importante que eles permaneçam em local de fácil acesso e que haja, sempre, a maior variedade possível, para proporcionar aos alunos a comparação entre textos, e facilitar a elaboração de conceitos pelo próprio aluno.

Não podemos esquecer, ainda, que o livro didático é um dos principais materiais utilizados em sala de aula, mas não é recomendável que ele seja o único, haja vista que, durante sua produção, é necessária uma seleção de conteúdos, que fica a critério dos autores. Estes, por sua vez, têm uma concepção de educação e uma experiência com o processo educativo que nem sempre poderá ser equiparada às necessidades de outros professores, em outras situações. Além disso, a produção do livro envolve, também, outros interesses do mercado, das editoras, enfim, outras variáveis que nem sempre se relacionam com o processo educativo.

Muitos livros paradidáticos, pela forma como são escritos e pela maneira como abordam os conteúdos, proporcionam o seu uso, pelo aluno, de maneira prazerosa e lúdica, diferentemente das aulas tradicionais de matemática; eles podem ser utilizados paralelamente à matéria ou como curiosidades a respeito de algum assunto que não estava previsto, mas que surgiu a partir do interesse ou dificuldades dos alunos.

Ainda há uma outra classe de livros que auxiliam na prática do laboratório, são os livros destinados para professores. É necessário que o professor tenha sempre materiais atuais sobre Educação Matemática.

Além dos livros, jornais e revistas constituem um material de presença obrigatória no laboratório. Jornais e revistas são instrumentos poderosos, pois veiculam informações, articulando-as, estabelecendo relações entre elas, emitindo opiniões dos editores dos janeis e de outros indivíduos da sociedade. Sendo assim, podem e devem ser utilizados como elementos para a formação do cidadão disposto a analisar criticamente a sua realidade. O jornal contribui, também, com a escola, na produção do conhecimento matemático específico. Várias notícias podem ser utilizadas em aulas de matemática, como, por exemplo, aquelas que contém gráficos ou trabelas, de modo que o aluno possa analisar e comparar informações do texto com as do gráfico ou tabela, ou utilizar outras formas de gráfico que seriam mais adequadas; enfim, analisar criticamente aquela notícia do ponto de vista matemático.

Acervo de jogos e outros materiais pedagógicos

Segundo Kishimoto (1994), o brinquedo ou objeto, que serve para auxiliar a atividade de ensino, deve ser considerado material pedagógico. O papel destes, na educação matemática, consiste em fornecer situações lúdicas aos alunos, que aprendem a estrutura lógica da brincadeira, assim como a da matemática.

O fato é que para transformar realmente todas estas (que chamamos de) atividades lúdicas em atividades educativas, torna-se fundamental a intervenção do professor, no sentido de estabelecer objetivos e elaborar atividades. A preocupação do educador matemático deve estar voltada, por meio do jogo ou de outras atividades lúdicas, para desenvolver, no aluno, a capacidade de lidar com as informações e resolver problemas com o auxílio da linguagem matemática.

Sendo assim, o ambiente de aprendizagem (laboratório/sala de aula) deve ser rico tanto em quantidade quanto em variedade de jogos, para que os alunos sejam incentivados a manipulá-los, investigar sua estrutura e realizar atividades propostas. Entretanto, o professor deve estar atento para não intervir de forma muito enfática, indicando para o aluno o conhecimento de forma estruturada. O aluno tem direito a instantes de reflexão, para construção do conhecimento, e não a mera repetição.

Da mesma forma que a aprendizagem não será significativa simplesmente se o professor indicar ao aluno o conhecimento de forma estruturada, também não se pode chegar ao outro extremo, imaginando que basta somente entregar o jogo aos alunos, que a aprendizagem estará garantida. A maioria do que chamamos jogos industrializados possui instruções, mas é importante que o professor o utilize em sala de aula orientado por um objetivo pedagógico bem definido. Caso contrário, corre o risco de perceber alunos simplesmente jogando, sem prestar atenção aos seus atos e sem utilizar da melhor maneira sua capacidade de raciocínio, em uma típica atividade espontânea, que poderia ser realizada em qualquer ouro local que não na sala de aula ou no laboratório, descaracterizando, desta forma, o processo educativo.

É importante, ainda, manter no laboratório outros materiais, como sólidos geométricos, materiais que sirvam para visualização e que podem ser confeccionados também pelos próprios alunos, como uma parte da atividade. Não podemos esquecer, também, de materiais de sucata, restos de cartolina, caixas de papelão, barbante, ou seja, pequenas coisas que podem servir de montagem de algum material

Multi-meios no laboratório

Vídeos, calculadoras, computadores e projetores podem ser instrumentos que, adequadamente utilizados, oferecem enorme contribuição para o processo de ensino-aprendizagem de matemática. Entretanto, o professor tem de desempenar seu papel de criador intencional de situações propícias à aprendizagem, para que estes recursos tecnológicos sejam realmente bem aproveitados.

Para tanto, o professor deve sempre ter em mente o conteúdo a ser transmitido e os objetivos aos quais pretende chegar com determinado recurso escolhido. As novidades nos meios não devem ser utilizadas como mera tecnologia, mas sim como formas de expressão do conhecimento. O uso de diferentes tecnologias provoca alterações nas formas de pensamento e de expressão, nos processos e atitudes mentais, entre outros benefícios.

 

O Laboratório de Matemática da Faculdade de Educação da USP (LABMAT)

O Laboratório de Matemática da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (LABMAT-FEUSP), composto por um acervo de livros didáticos, paradidáticos, de publicações acadêmicas, de materiais pedagógicos como ábacos, material dourado, sólidos geométricos e produções próprias, de meios multimídia, como computadores, câmeras fotográficas, filmadoras e projetores,  e materiais diversos como tintas, massas de modelar, sucata, barbantes e papéis (cartolina, crepom, colorset, entre outros), foi criado para: produzir e possibilitar o acesso a materiais de ensino de matemática, servir de espaço para formação de professores, e promover debates que tragam contribuições para a área de Educação Matemática.

O LABMAT proporciona aos graduandos de Pedagogia e Licenciatura em Matemática,  pós-graduandos e professores em cursos de extensão uma formação diferenciada por meio de debates e oficinas nos quais são levados em consideração o discurso teórico, os produtos da pesquisa sobre Matemática e Educação, bem como a realidade concreta da sala de aula.

No Laboratório, desenvolve-se também o projeto de estágio do Clube de Matemática, Ciências e Geografia (CMCG), que tem servido de espaço para discussões teóricas e práticas sobre interdisciplinaridade e transversalidade no ensino ao congregar três diferentes áreas do conhecimento, por meio da produção de atividades que, utilizando-se de jogos, situações lúdicas e problemas desencadeadores, contribuem para o desenvolvimento de uma educação motivadora.

No LABEDUC, o LABMAT tem o papel de difundir e disponibilizar mais amplamente a produção de alunos e professores da FEUSP, contribuindo diretamente para o desenvolvimento da área de Educação Matemática.

 

*FRANZONI, Giovana; PANOSSIAN, Maria Lucia. O Laboratório de Matemática como espaço de aprendizagem. In: Moura, M. O. de (coord.). O Estágio na Formação Compartilhada do Professor: retratos de uma experiência. São Paulo: Feusp, 1999.

KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.