A urdidura do magistério primário na Corte Imperial: um professor na trama de relações e agências

Este estudo teve como objetivo compreender as relações tramadas pelos sujeitos a partir da escola, bem como seus efeitos no processo de escolarização e na constituição da profissão docente no século XIX.

Este estudo teve como objetivo compreender as relações tramadas pelos sujeitos a partir da escola, bem como seus efeitos no processo de escolarização e na constituição da profissão docente no século XIX. Por meio de um jogo de escalas (REVEL, 1998), articulando o local e o global, procurei analisar as diferentes maneiras dos professores e das famílias dos alunos das escolas públicas no município da Corte operarem na dinâmica da sociedade, ao lançarem mão de um jogo de estratégias sociais que mostram suas condições e recursos, mas que também os constituem num permanente processo de negociações, mediações e redefinições das próprias posições no espaço social. Para compreender as tramas enredadas pelos atores escolares, selecionei um fio para alinhavar a análise: a longa trajetória do professor público primário Candido Matheus de Faria Pardal. Seu nome constituiu uma bússola, aos moldes de Ginzburg (1991), que contribuiu para definir caminhos e estratégias de pesquisa, análise e escrita. Nesse sentido, o recorte temporal foi delineado considerando o percurso de vida e de profissão de um decano dos professores públicos, partindo da década de 1830 e se estendendo até a última década do Império. As fontes utilizadas formam um conjunto variado de materiais como relatórios, documentos manuscritos e periódicos da época. O estudo está organizado em quatro movimentos. No primeiro, busco analisar as relações com o governo e as agências operadas pelos professores da Corte que atuaram no mesmo período que Pardal. No segundo, procurei analisar as múltiplas redes estabelecidas a partir dos sujeitos escolares, atrelada à dinâmica local em que a escola estava inscrita, dando relevo às relações e agências constituídas entre professor, alunos e habitantes. No terceiro, pretendi compreender a inserção dos professores no movimento da cidade por meio de suas instituições sociais, culturais e políticas que permitiram o exercício de um protagonismo docente. No quarto, almejei refletir sob a perspectiva de histórias conectadas, buscando apreender a interlocução dos professores com saberes, sujeitos ou experiências provenientes de outros lugares, mais especificamente, em conexão com a França, por meio do professor Pardal. Dessa forma, procuro incialmente focalizar questões em torno do território do ofício docente na Corte. Em seguida, detenho-me na escala de uma escola e de sua localidade, para então me deslocar para a atuação dos sujeitos em um cenário mais alargado e perceber suas conexões com outros espaços, e, assim, alinhavar os fios que compõem a urdidura do magistério primário, a trama de um professor da Corte e os lugares da docência na cidade.

 

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